segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Conan – A Torre do Elefante

Resenha e Comparação entre Diferentes Adaptações para os Quadrinhos


Quadrinisticamente falando, posso me considerar um cara de sorte, nestes últimos meses. Incentivado fortemente por minha noiva e alguns grandes amigos a recomeçar meu hábito de colecionar revistas em quadrinhos (tendo recebido doações, inclusive, de revistas que não eram mais de interesse desses companheiros), retornei ao meu saudoso e sedento fanatismo por esse gênero peculiar da literatura com nada mais, nada menos, que as aventuras do Gigante Cimério de Bronze, Conan. E que grande recomeço! Nesta época em que a Mythos editora encerrou seu trabalho nas revistas "Conan - O Bárbaro" e "Conan - O Cimério" (que nem mesmo tem esse nome nas capas, mas tudo bem), tem sido bem fácil encontrar nas bancas pacotes promocionais, com três números a R$3,00 ou R$2,00 (!) e não é nenhuma surpresa que minha coleção tenha crescido rapidamente em apenas dois meses.

Se tudo isso não bastasse para fazer de mim um nerd feliz (ou geek, eu nunca sei qual é o termo que se aplica a mim), constatei que tenho em minhas posses TRÊS diferentes adaptações de uma das mais fabulosas histórias da saga do cimério, A Torre do Elefante (também chamada de “A Torre Elefante” ou “O Coração do Elefante”). Foi ao perceber que elas guardavam razoável diferença entre si que pensei: "Seria interessante escrever alguma coisa, comparando cada estilo de arte, a narrativa de cada autor, os detalhes transcritos e os 'omitidos', etc". Disso tudo surgiu o presente artigo.


Só para constar, pode ser que este artigo contenha spoilers. Então, se você ainda não leu a história, e pretende lê-la algum dia, pode querer deixar o artigo para outra oportunidade.


As três diferentes adaptações de "A Torre do Elefante" que pretendo comparar, cena a cena, foram publicadas no Brasil nas revistas "A Espada Selvagem de Conan #11" (embora eu tenha lido a mesma versão, na verdade, na "Conan Especial #3"), da Abril Jovem; "Conan - O Bárbaro #60 e #61" da Mythos Editora (com o nome de “O Coração do Elefante”), e "Conan - O Cimério 20 a 22" (com o nome de “A Torre Elefante”), também da Mythos. Infelizmente, falta em minha coleção o número 22 da "Cimério", mas garanto que isso não torna menos interessante a comparação.


As duas primeiras adaptações foram feitas pelo mesmo autor: o saudoso e consagrado Roy Thomas, da Era Marvel. Kurt Busiek foi responsável pela mais recente adaptação, na revista da Dark Horse. A arte da primeira adaptação é da fenomenal dupla John Buscema e Alfredo Alcala (para mim, a melhor combinação de Arte/Arte-final das histórias do Conan). Sendo, na verdade, uma remontagem das tiras de jornal do Conan, a adaptação publicada na "Conan - O Bárbaro" da Mythos contou com a colaboração de diversos artistas. Cary Nord, que, a meu ver, é dotado de um estilo um tanto esquisito, mesmo que agradável, fez a arte da versão da Dark Horse.





CENA A CENA

1ª CENA:


Nossa aventura começa quando o jovem cimério, nesta época com 17 verões, encontra-se em uma taverna da cidade de Arenium (algumas vezes chamada Arenjun), mais popularmente conhecida como A Cidade dos Ladrões, em Zamora. Ali, ele ouve falar de uma jóia, de nome O Coração do Elefante, que poderia ser encontrada em uma torre, de propriedade de um sacerdote e feiticeiro chamado Yara. O cimério procura obter informações sobre a jóia com um kothiano, raptor de mulheres, que bebia e contava lorotas em alto em bom som, mas acaba se desentendendo com este homem e o mata.


Nesta primeira cena, já se pode perceber grandes diferenças entre as adaptações. A primeira delas, de "A espada Selvagem", carece de detalhes e é bem sucinta em sua narrativa, terminando muito mais rapidamente. Não há qualquer menção, aliás, ao fato de o kothiano com quem Conan conversa ser um raptor de mulheres. Na versão das tiras de jornal, encontrada em "Conan - O Bárbaro", temos uma introdução importante, que dá sequência a outros eventos das histórias contadas nas tiras. De fato, nesta versão em particular, vemos toda a sequência de eventos como uma recordação da juventude do cimério. Vale salientar que vemos aqui uma riqueza maior de detalhes sobre os personagens envolvidos na cena, por exemplo, mostrando o kothiano contar vantagem sobre suas capacidades para escolher mulheres para raptar e vender como escravas. Na última adaptação, e esse é o grande ponto da mesma, vemos uma maior ênfase no 'clima' da zona perigosa da Cidade dos Ladrões, e o nosso tão rapidamente eliminado kothiano recebe algumas páginas a mais, contando até mesmo uma piada (que, ao contrário de muitas outras piadas que se vê por aí em quadrinhos, é mesmo engraçada).


2ª CENA:


Saindo taciturnamente da taverna, Conan ruma para a área dos templos da cidade, onde se encontra a Torre do Elefante. Ao vislumbrá-la, Conan percebe sua beleza e esplendor, e as jóias que adornam o seu cume. Ele se pergunta por que a Torre recebeu tal nome, e relembra histórias que lhe foram contadas pelos patifes da cidade, acerca de Yara e suas feitiçarias. Parecendo ouvir o som do tilintar de metal, vindo de além dos muros externos que circundam a torre, Conan se prepara e acautela. Ao saltar sobre os muros, Conan se depara com um pátio amplo, mas não há ninguém ali. Andando por entre as sombras de arbustos e árvores presentes, Conan tropeça no corpo de um soldado da guarda, que fora estrangulado, pelo que deduz. Mais adiante, Conan encontra-se com um inesperado concorrente para o roubo, que acaba tornando-se seu aliado na empreitada, Taurus da Nemédia, conhecido como o Príncipe dos Ladrões.


Nesta cena, percebi maior aprofundamento na descrição da área dos templos na adaptação da Dark Horse. Todas as adaptações incluem divagações de Conan a respeito dos deuses Zamorianos e sua diferença em relação a Crom, um deus cimério, mas as percepções de Conan são mais claras na adaptação mais recente. Na primeira das adaptações também é possível perceber uma falta de descrição, no que diz respeito aos estalhes existentes nos muros externos, que são desenhos em alto relevo de elefantes. Tais desenhos são apenas mencionados na segunda adaptação, e realmente aparecem na última. Com relação à adaptação em "Conan - O Bárbaro", não há menção alguma à história que Conan teria ouvido de um shemita, sobre elefantes existirem na Hirkânia. E quanto à adaptação da Dark Horse, outra vez vemos um maior detalhamento, pois a imaginação de Conan aparece até mesmo ilustrada, quando recorda das lendas sobre os poderes do sacerdote Yara.


O ponto alto desta cena é o encontro entre Conan e Taurus. E aqui veio minha estupefação com a até então perfeita adaptação da Dark Horse: Taurus já havia aparecido no início da história, um homem magro, de barba volumosa e rosto malicioso, na taverna onde tudo começou (apenas nesta adaptação, mas não nas duas anteriores). Nesta cena, um Taurus completamente diferente se faz presente, barrigudo e de poucas vestes, só pra começar! Nem se compara ao Taurus das duas adaptações da Era Marvel, que era um homem de porte físico abastado, barba e cabelo longos, vestimentas mais típicas para um nemédio. Outra estranheza dessa cena fica por conta da adaptação presente em "Conan - O Bárbaro": primeiramente, com os desenhos de Alfredo Alcala, Taurus aparece com o cabelo e barba escuros, mas esses estão claros no restante da história.


3ª CENA:


Conan e o nemédio Taurus, tendo acordado em roubarem juntos a Torre do Elefante, saltam sobre uma segunda muralha para dentro dos jardins que circundam a estrutura principal. Ali, são atacados por leões, os quais já eram aguardados por Taurus, que sabia de sua existência. O conhecido Príncipe dos Ladrões usa de um pó, feito das flores da lótus negra, para matar as feras, disparando com sua zarabatana. Os dois ladrões, enfim, preparam-se para escalar a torre, mas, enquanto Taurus arremessa contra o topo uma corda com arpéu, Conan é surpreendido por mais um leão, que salta das sombras sobre ele. Depois que Conan mata a fera, ambos os ladrões escalam a torre de vidro liso com incrível facilidade.


Aqui percebi uma diferença bem interessante. Na adaptação de "A Espada Selvagem", cinco leões são mortos por Taurus. A adaptação de "A Espada Selvagem" também não deixa muito claro que Taurus se tornou conhecido como o Príncipe dos Ladrões pelo feito de ter obtido o pouco de pó de lótus que usa nessa cena, enquanto nas demais adaptações ele nos fornece essa explicação.


4ª CENA:


Conan e Taurus alcançam o topo da torre, onde o jovem cimério vislumbra pedras preciosas magníficas encrustadas. Taurus decide entrar na torre primeiro (por uma porta solitária ali presente, que leva à câmara superior) e pede a Conan que percorra o parapeito, garantindo segurança para a fuga posterior. Logo, Conan percebe que algo está errado lá dentro, mas antes que entre na torre, vê Taurus sair dali claudicando (esse termo é bastante usado nas histórias de Conan), e então tombar morto, depois de parecer sufocar. Em seu pescoço, Conan percebe três perfurações, como se tivessem sido feitas por dardos envenenados (mas não há hastes nos orifícios). Entrando na câmara para investigar, Conan vê à sua frente o maior tesouro que, até aquela época, havia visto, mas não há sinal de qualquer ameaça. Até que, vinda do teto, uma gigantesca e mostruosa aranha o surpreende, respingando veneno ardente de suas quelíceras sobre o ombro de Conan. Conan luta por sua vida, temendo não apenas o veneno do aracnídeo, mas também tendo de enfrentar a ameaça de ser pego em suas teias densas e pegajosas. Quando se vê rodeado de teias e sem ter muito espaço para correr, Conan é pego pela aranha num arremesso de sua teia, mas consegue derrotá-la, lançando contra ela o peso de um baú, lotado de tesouros, que encontra perto de si.


Não há muita diferença entre as adaptações, mas eu, como um caçador de pulgas fanático, percebi alguns detalhezinhos miúdos. Primeiro, parece haver muito mais tesouro na câmara superior nas versões de "A Espada Selvagem" e "Conan - o Bárbaro", em relação ao que se vê ilustrado em "conan - O Cimério". Segundo, a pata que Conan ceifa da aranha, com sua espada: na adaptação de "A Espada Selvagem", é claramente a segunda pata direita (embora, no último quadro em que aparece o monstro, vê-se perdida a terceira, um erro, certamente); também é a segunda pata direita a ceifada em "Conan - O Cimério" mas, na adaptação de "Conan - O Bárbaro", a aranha perde a quarta pata esquerda.


5ª CENA:


Conan desce pela torre, temendo por estar sozinho e lamentando a morte de seu companheiro Taurus. Numa câmara repleta do odor de incenso, Conan se surpreende ao encontrar o que ele julga ser uma estátua de um ser semelhante a um elefante, talvez um ídolo, que então demonstra não ser uma estátua, mas um ser vivo. Conan percebe que o ser tem sofrido agruras horríveis, pois há marcas de torturas e queimaduras em sua pele e carne. Compadecido e tomado de imensa pena, Conan ouve sua história. O ser, chamado Yag-Kosha, explica ser um alienígena vindo do distante planeta verde Yag, de onde foi banido, junto com outros de sua raça, por ter afrontado seus superiores. Na Terra, Yag-Kosha já testemunhou milênios da evolução das espécies e das nações, até que foi ludibriado e capturado pelo sacerdote e feiticeiro Yara, que ali o mantém prisioneiro, para seus propósitos místicos. Yag-Kosha, então, pede a Conan que arranque seu coração e derrame seu sangue na jóia chamada Coração do Elefante, e leve a tal jóia até a sala onde se encontra o feiticeiro malévolo, depois de ensinar-lhe os dizeres de um encanto. Conan atende seu pedido, e derrota o mago Yara com a jóia e o encanto secreto, para depois escapar da Torre e vê-la ser despedaçada pela poderosa feitiçaria de Yag-Kosha, também chamado Yogah de Yag, depois que a abandona.


Aqui também não há grandes diferenças, exceto por eu ter notado maior detalhamento nos relatos de Yag-Kosha na versão de "A Espada Selvagem" (como não possuo a edição 22 de Conan - O Cimério, esta é a exata cena que me falta, então não posso pô-la em comparação). Aliás, talvez eu tenha entendido errado, mas dentro da história contado por Yogah, na adaptação de "A Espada Selvagem", é dito que a Hirkânia fica no OESTE do mundo hiboriano; entretanto, qualquer mapa da Era Hiboriana mostra a Hirkânia no leste.





PALAVRAS FINAIS


Em todas as suas adaptações, “A Torre do Elefante” é uma história memorável. A primeira das que mencionei vence no quesito artístico, pois o estilo de John Buscema e Alfredo Alcala dá um banho, demonstrando toda a magia do universo do cimério em seus traços e conferindo um “clima” à história, próprios destes artistas. A versão da Dark Horse vence no quesito “detalhes”, pois Kurt Busiek tem uma narrativa minuciosa, ainda que dinâmica. Pena que, ao meu entender, não tanto nessa, mas em outras histórias do cimério, Kurt faça do jovem Conan um cara totalmente malicioso, dotado de certa perfídia, características bem diferentes daquelas que Roy Thomas nos mostrava (embora ladrão, o jovem Conan era honrado e, mesmo que impetuoso, era mais ingênuo que na nova versão). Por último, vale dizer que a versão das tiras de jornal, remontadas em “Conan – o Bárbaro”, ganha no quesito “Vale à pena ler”.




















Por Giovane do Monte

8 comentários:

  1. eu tive oportunidade de ler 2 das versões citadas, a da Dark Horse e a versão em tiras de jornal. ao meu ver, a da Dark Horse é boa, com sua narrativa contemporânea dinâmica e tudo mais, mas a versão de Roy Thomas com certeza dá um banho de narrativa, com expressões carregadas e descrição detelhadas que dão muito peso à trama, o que falta muito nas histórias de hoje em dia...
    mas ambas são muito boas, e as comparações do post ficaram muito bem delineadas.
    ótima postagem!!

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  2. Esse blog está cada vez melhor, um verdadeiro 'balaio de mil gatos'! parabéns Faby! Giovane, me lembro tb com saudade da minha coleção de "Espada Selvagem de Conan" que vendi, por estar apertado na época. Numa coisa concordo contigo, a arte de John Buscema e Alfredo Alcala é realmente fantástica. uma das melhores duplas que já retrataram o cimério. Dos roteiros de Roy Thomas não há o que comentar. infelizmente só li essa versão da história "A Torre do Elefante'. Assim mesmo considero uma das melhores publicadas na época. década de 80 por aí? vou ter que procurar essas outras versões pra comparar. ótimo post.

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  3. A Torre do Elefante é uma das melhores histórias do Conan mesmo. Curti o artigo. Só acho que poderia ter umas imagens das diferentes versões para mostrar algumas diferenças. No mais, muito bom! Aguardando mais resenhas, em especial do cimério brucutu heheh

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  4. Ah, o giovane deu tanto detalhe q nem precisa imagem!!!!
    hehehe

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  5. acho muito interesante esses gibis da espada selvagem de conan quando li a primeira vez em fevereiro de 1998 eu fiquei fascinado por esses gibis qiando elas forão cancelada em dezenbro de 2001 fiquei muito triste pois era fã de carterinha

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  6. JA LI A TORRE DO ELEFANTE A 20 ANOS ATRAZ , E ME FAÇINEI PELA HISTORIA MUITO BOM

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  7. JA LI A TORRE DO ELEFANTE A 20 ANOS ATRAZ , E ME FAÇINEI PELA HISTORIA MUITO BOM

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